O presente mais valioso que podes oferecer este Natal

 

Estamos ainda no período do Solstício – dentro de dias será Natal. São os dias em que a Humanidade celebra a Luz. Muito simplificado, a celebração do Solstício acontece quando a noite é a mais longa, a partir do Solstício, os dias começam a crescer, o Sol “volta”. Essa “renascer do Sol” é celebrado também no Natal é o dia do nascimento de Jesus, sendo ele a “Luz Divina”.  

O ciclo do Terra à volta do Sol é um fenómeno estudado e descrito, podemos medir com exactidão o diminuir e crescer dos dias e prever quantos minutos a mais terá o dia de amanhã.

Mas lá no nosso intimo a nossa essência percebe que esse ciclo contém o mistério da Vida, e o retorno do Sol é um milagre que acontece todos os anos. É algo divino que toca naquela parte de nós que ainda está ligada aos primórdios dos tempos.

Este momento do inverno é o momento de passagem pela noite escura. E podemos, simplesmente, desejar que haja luz.  E desejamos, ferverosamente: mandamos postais e mensagens, desejando uns aos outros que haja luz, que haja paz na Terra, que haja tranquilidade, felicidade. Desejamos tudo isso mesmo sabendo que na verdade, aquilo não existe. Sabemos perfeitamente que, quando se unem famílias, as perturbações nos relacionamentos vêm ao de cima, as divergências tornam-se mais claras, o stress aumenta. Sabemos também que a fé que nós celebramos com tanta dedicação é fonte de grandes discórdias e de guerras, até.

Temos sede da Luz, portanto. Mas sem sentirmos primeiro a escuridão, a mudança para a luz não terá lugar. Teremos que ter consciência da escuridão que há em nós para que, depois, a gente possa sentir a luz. Assim, dentro de nós, a luz poderá renascer.

Podemos ver esse processo representado no símbolo do Yin e Yang. Duas partes de cores opostas encontram-se entreligadas, como duas ondas que se curvam uma à volta da outra. Na parte escura, há uma mancha branca. Na parte branca, há uma mancha escura.

É o símbolo da eterna mudança, uma eterna alternância entre a escuridão e a luz. Da luz nasce a escuridão, e da escuridão nasce a luz.

Neste período do Natal, este ciclo, está no ponto mais escuro. Há menos luz, menos sol, mais sombra, mais noite. É o momento mais indicado para tomarmos consciência daquela parte que há em nós que dói.

A dor pode ser, literalmente, o músculo contraído, o coração apertado, pode ser o estômago que está mais tensa, pode ser uma dor de cabeça. Ou pode ser, em termos figurativos, a memória de uma amizade perdida, que ainda dói, a maneira como foi a separação, pode ser algum ressentimento que temos contra alguém da nossa família, ou alguém próximo, pode ser alguma solidão, pode ser alguma superioridade,  quando sentimos que estamos a comparar-nos uns com os outros e que sentimos aquela dureza de rejeição daquilo que é diferente.

Isso tudo é sombra dentro de nós. O sofrimento não é apenas resultado daquilo que é feito a nós. O sofrimento também é aquilo que existe em nós. E é importante, nestas noites de escuridão,  ter consciência desta sombra que trazemos. Trazemos ressentimentos, trazemos aversões, trazemos medos.

É altura de tomar consciência de tudo que é da nossa responsabilidade. Esta dor, que é da nossa responsabilidade, precisa de ser vista. Este é o lado sombra que trazemos em nós.

Também é da nossa responsabilidade escolher a felicidade, escolher a alegria. Mas apenas escolher a alegria, negando a responsabilidade e fugindo daquilo que é sombra, vai fazer nascer mais escuridão. O Yin e o Yang é mesmo isso: escolhendo apenas aquele branco, o branco nasce no meio.

No solstício do inverno, o tempo é de ver a noite. E lá dentro, se mergulhamos lá dentro, podemos encontrar a luz.

Na meditação, não estamos à procura de pôr isto em termos psicológicos, mas estamos à procura de viver, de sentir esta parte escura. Podemos fazer isso simplesmente reconhecendo o que há em ti que dói.

Que seja este músculo, que seja o fígado, que seja algum sentimento que está atravessado: isso existe dentro do nosso corpo e podemos ir lá, ficar lá e sentir o que acontece. Tu podes fazer isto agora mesmo, sentindo o teu corpo.

O que é que chama a tua atenção? Onde há constrangimento? Onde há dureza? E sem querer saber de onde é que vem ou como é que se explica ou de quem é a culpa, sente o teu corpo.

Entre em contacto com o teu corpo. E sente onde há escuridão, dureza, tensão, dor. Esta é a parte escura do yin e do yang. Onde não há luz. Onde não há espaço. Entra ali.

Porque quando entres ali, naquelas partes do teu corpo onde há aquele mal-estar, a tua atenção indivisa, pura, sem julgamento, sem achar bem ou mal aquilo que lá está, vai trazer luz.

É importante não tentar explicar - se nós traduzimos a sensação do nosso corpo para conceitos verbais, a nossa mente vai polarizar. Vai pôr isso num campo de: é como deve ser, ou é como não deve ser. E perde-se a essência que a escuridão pertence, que ela precisa de ser sentida. Porque é na escuridão que nasce a luz. Não é dispensável. Não é errado sentir-te mal.

Podemos sentir o nosso corpo e tudo o que lá acontece com uma curiosidade genuína. Atenção indivisa. Sem julgamento. Dando-nos o espaço de ser, tal e qual como estamos naquele momento.

E aquele espaço que tu te das a ti próprio é o espaço onde nasce a luz. Tenta. Sente-te a ti. E oferece este presente a ti próprio. É um presente de Natal luminosa, tranquilo e muito, muito, muito gentil.

É um presente de luz que podemos dar aos outros também. Acolhê-los tal e qual como estão. Com todas as suas dificuldades, com todas as suas expressões complicadas, com todos os seus sentimentos contraditórios, com todo aquilo que trazem. E a nossa atenção, a nossa atenção plena, sem julgamento, vai dar espaço ao outro. Vai dar luz. Vai fazer nascer a luz.

É o presente de Natal mais valioso que podes dar a ti, aos outros: A tua atenção genuína. O teu interesse honesto. O teu amor incondicional, no fundo. Em que há apenas atenção, sem julgamento.

Isto tem que começar contigo próprio. Da maneira que eu convido a todos, antes do Natal ainda, fazer esta pausa, sentar-vos e com a respiração oferecer-vos espaço. Oferecer-vos oportunidade para que a luz possa nascer.

Desejo-vos um bom Natal a todos.

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