Desapego - em nome do amor-próprio e da auto-compaixão



Podemos olhar para todos os processos de cura como uma procura para reencontrar o equilíbrio interior  e a harmonia. E se houver um elemento-base de todos os tipos de curas, será o amor-próprio e a auto-compaixão.
Desde há milhares de anos, grandes mestres espirituais ensinam que o equilíbrio interior começa com uma aceitação de quem somos, em amor e bondade.  Entre as frases mais citadas da Bíblia está "...Ame o seu próximo como a si mesmo" (Mateus 22:39)

A intenção por detrás deste incentivo ao amor-próprio não é egocêntrico, antes pelo contrário. Amar o próximo como a ti mesmo significa reconhecer em outros a mesma dignidade que há na tua própria vida; significa oferecer ao outro o mesmo cuidado e consideração que dedicas a ti mesmo.
"Um homem que ama a si mesmo respeita a si mesmo e um homem que ama e respeita a si próprio respeita os outros também, porque ele sabe, ‘Assim como eu sou, os outros também são. Assim como gosto do amor, respeito, dignidade, os outros também gostam’. Ele se torna cônscio de que não somos diferentes, no que diz respeito ao essencial, nós somos um. Estamos debaixo da mesma lei: Es dhammo sanantano.
O homem que ama a si mesmo desfruta tanto do amor, se torna tão contente, que o amor começa a transbordar, começa a alcançar os outros. "(Osho, The Dhammapada: The Way of the Buddha, Vol. 5)

Amor próprio é a chave 

Amor próprio e auto-compaixão devolvem a nós a nossa independência, a nossa liberdade. É claro que é sempre agradável receber reconhecimento, faz parte do prazer partilhar tempo de vida com outras pessoas. Mas quando temos amor-próprio, já não estamos dependentes das circunstâncias e de outros para sentirmos bem connosco.  
Aprender a valorizar quem somos, ter compaixão connosco e amar-nos, é o início de uma mudança fundamental para melhor. É como aprender a voar - estarás livre.

Podemos desejar essa liberdade, mas o ser humano é um ser social. Funcionamos em família, criamos laços; cultivamos cumplicidades e amizades. Cultivamos estes laços porque são nos confortáveis, oferecem segurança e a sensação de pertença, de um porto seguro. Mas também criamos laços mais complicados, em que emoções negativas se acumulam e pesam. Podem ser inclusivos ligações que nos dão a sensação de sermos sugados, ou usados. 

Para poder sentir auto compaixão e amor-próprio pode ser necessário que libertamos os laços que se tornaram amarras. Pode ser necessário desapegar de pessoas e deixar o passado para trás!

Fim do ano - o que queremos deixar para trás?

Num post anterior (o Amor Próprio, o Desapego e os Chakras) falei de uma aproximação possível ao desapego, através de uma limpeza dos chakras. Outra aproximação é o desfazer de cordas e amarras específicas. 
Qualquer altura do ano é bom para arrumar e desapegar, mas o último mês do ano é a altura por excelência para fazer o balanço do ano. Há situações que queremos deixar para trás? Pode ser que há situações que pesam, ou ligações que impedem a harmonia. Situações em que há desilusão, traição, desconfiança ou ciumes, ou mesmo luto por uma relação acabada ou um ente querido que faleceu.

Ao querer libertar-nos de apego a uma pessoa, podemos pensar que basta "cortar as amarras", como se pudéssemos simplesmente fechar a porta, virar as costas e não pensar mais no assunto. Na realidade não é assim tão fácil. Libertar alguém requer compaixão - compaixão para connosco mas também compaixão para com a pessoa que desejamos libertar. 

Cultivar compaixão ajuda a ter entendimento e clareza sobre a situação em que estamos. Compassivamente, podemos ver de dois lados os motivos que levaram a haver uma ligação difícil. Podemos assim começar a aceitar o passado que existe, e o sofrimento que resultou. 

Precisamos de compaixão para connosco, para poder ver e aceitar que merecemos ser livres. A partir desta auto-compaixão podemos desenvolver compaixão para com o outro: também o outro merece ser livre. 

E assim podemos cultivar uma atitude mais desprendida, mais leve. As memórias ficam, a nossa história não deixa de existir. Mas podemos deixar cair o peso emocional que assombrou os pensamentos. 

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