Equinócio da Primavera: a importância de abraçar a mudança



Dia 20 de Março é dia de Equinócio. Início da Primavera, início de mais uma volta ao Zodíaco, momento de equilíbrio entre dia e noite. 12 horas de Luz, 12 horas de Sombra. Como todos os anos, o momento é marcada com uma meditação junto às pedras do Cromeleque, numa saudação ao Sol Nascente. 

É uma celebração dos ciclos da Natureza. O que nos move nestas celebrações não é propriamente a reconexão com a Natureza. Marcamos com um ritual o momento para lembrar que nós somos também a Natureza. Não há lugar para reconexão se estamos sempre conectados.  Somos Terra, somos Fogo, somos Água, somos Luz. 

É no coração que encontramos aquilo que a tradição dos nativos americanos chama "a direcção do Centro" - onde todas as direcções se unem, onde todas as dimensões da Vida se encontram. É uma maneira de lembrarmos que não estamos separados da vida. Somos a Natureza, somos a Criação.

É consistente com a visão que o poeta árabe Rumi descreveu com o verso: "Não existe nada fora de ti, olhe para dentro. Tudo o que desejas está aí. Tu és Aquilo."

O filósofo britânico Alan Watts usou outras palavras, mas com o  mesmo sentido: "Tu és a energia eterna que se apresenta como Universo. Não vieste para este mundo, vieste de dentro dela. Como uma onda surge do oceano."

São palavras que reflectam a essência da vida. No entanto, a nossa mente que criou a ilusão que somos um fenómeno aparte. Criou a ilusão que é nos dado olhar a natureza a partir de uma posição exterior - como se estivessemos num jardim zoologico, um parque de diversões, ou a observar uma experiência científica. 
 
A Vida é complexa, uma sinfonia de muitos elementos que todos são preciosos e necessários. Dia e noite, luz e sombra, seres de todo o tipo, o povo das pedras, o reino das plantas, o reino animal, os seres humanos, os anjos, o reino divino - tudo pertence. Todos os aspectos fazem parte desta dinâmica de mudança contínua que chamamos Vida - incluindo o amor, o ódio, a alegria, a compaixão, o medo e a morte. E nós humanos, que somos natureza, trazemos dentro de nós tudo isso. 

Os tempos que vivemos são um verdadeiro desafio. Sentimos na pele o desconforto da separação, do isolamento, do confronto com as nossas escolhas. O mundo sente também o desassossego do desconhecido, do incerto: o que está a acontecer, para onde está a ir a nossa sociedade?  A polarização extremou as posições entre grupos e partidos. Entrámos num mundo a preto e branco, do género: se não estás comigo, estás contra mim. A necessidade de encontrar paz de espirito é visível no grande número de retiros, workshops, cursos, actividades centrados na procura do sossego interior. Somos seduzidos almejar só  a Luz, recusar a negatividade,  ter a aspiração de ser apenas Amor, curar-nos por completa, não ter feridas nem dor. 

No entanto, isso seria apenas olhar para uma parte da realidade da vida. Nestes dias do Equinócio lembramos que são justamente os opostos que contribuem para a dinâmica dos ciclos. É assim na natureza, é assim em nós. 

Nas palavras do antropólogo David Graeber:
Sem a existência do ódio, o amor não tem sentido. Torna-se apenas uma idealização insípida: idealização do eu e do objeto da sua devoção. Como tal, é fundamentalmente estéril. O verdadeiro amor, o tipo de amor genuinamente digno desse nome, é uma espécie de superação dialética. O verdadeiro amor só pode ser amor se vencer o ódio, não aniquilando-o, mas contendo-o e transcendendo-o, e não apenas uma vez, mas uma e outra vez.  

A nossa mente não descansa. Na sua natureza está a procura de soluções e respostas. Ninguém quer sofrer, é preciso encontrar uma resposta. Se encontramos dor, medo, desorientação, manipulação e vitimização na Terra, não basta desejar que aquilo desaparece, não basta fugir para um lugar paradisíaco e tranquilo. Se desejamos harmonia, paz e cura para a Terra, há algo que podemos fazer, algo que realmente pode fazer a diferença: Permitir que exista harmonia em nós. Lembrar o que há de humano lá dentro. Lembrar de Ser um ser Humano.

Nós somos o Universo. Se queres mudar o mundo, começa contigo!

Saudação ao nascer do Sol da Primavera
dia 20 de Março no Cromeleque dos Almendres, em Guadalupe (Évora), às 06.30h

NOTA: há previsão de chuva - se realmente houver chuva o ritual não terá lugar. 

Para a cerimónia no Cromeleque, é costume trazer uma oferenda em agradecimento ao sítio: um pau de incenso, um pouco de água, uma pedrinha, uma flor, ou o que achar adequada para exprimir a gratidão.

Meditação da Primavera
dia 20 de Março às 19.30h, na Clinica Consultalen, Évora 

Nota: é preciso marcação prévia 



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