A procura de significado no Portal do Leão

O Portal do Leão é caracterizado pelo alinhamento da Terra com o Sol e Sírius, a estrela principal da constelação do Cão. É a estrela mais brilhante que podemos ver a olho nu, por vezes mesmo de dia. Todos anos há um período em que Sol e Sírius aparecem alinhados na linha do horizonte: são os dias do Cão. 

Era, em tempos, um período marcado pela observação do céu: observando o nascer do Sol todos os dias, é possível ver quando Sol e Sirius nascem ao mesmo tempo, mas também quando deixa de ser assim. Entendia-se que era um período de energia especial, uma abundância energética especial. Por acontecer quando o Sol nasce no signo do Leão, o período era chamada "o Portal do Leão". A luz de Sírius potencia, por assim dizer, a energia do Sol que está em Leão, e o Sol potencia a energia de Sírius.

Hoje em dia, o Portal do Leão é muitas vezes associado a um conceito inventado pela mente humana. Na sua evolução, o ser humano começou a certo momento, afastar-se da natureza. Pela sua capacidade de observar com consciência (ou seja, sabendo que está a observar), gradualmente desenvolveu a sensação que o ser humano é outra coisa, encontrando-se por assim dizer, fora da natureza. Começamos a ter a noção que éramos capazes de ocupar e controlar uma parte da natureza, de tirar dela o que precisamos para sobreviver. 

A natureza não é um lugar pacífico e paradisíaco. É um lugar que pode ter sol e liberdade, mas que muitas vezes é sujo e frio.  Onde há alegria e comunhão, mas também doenças e inimigos. É um sistema onde pode haver abundância num momento e falta noutro. É um sistema onde a morte pode acontecer a qualquer momento.

Com certeza que a tendência de ter controlo foi motivada pelo receio de não conseguir sobreviver. Uma necessidade de se sentir seguro, protegido e a salvo. Uma necessidade de ter certezas, algo em que se possa ter fé, em que se possa confiar. 

Continuamos a olhar para a natureza de fora. A nossa mente que consegue ter consciência daquilo que sente, vê e ouve, vive na sensação de estar separado. A experiência humana é isso mesmo: viver a dualidade.

Mas lá dentro continuamos a querer pertencer. Continuamos a desejar a comunhão com a natureza, onde tudo tem um papel, um destino, um significado. Sabemos, porque investigámos e observámos, que cada elemento da natureza tem um papel na engrenagem total. Cada espécie e cada fenómeno tem uma origem e uma finalidade. Toda a vida está interligado e interdependente. Mas a vida não tem nenhum sentido a não ser florescer e continuar. A vida é para ser vivida. A vida É. Mais nada. Sem direcção certa ou errada, sem bem ou mal - a Vida procura simplesmente Ser.

Há uma continuidade e uma comunhão na natureza que desejamos sentir também. O nosso coração anseia por ter a sensação de pertença. Muitas vezes não a sentimos: a nossa mente vive na ilusão que o nascimento é o início, o momento da morte é o fim.

Contrariamos esta ilusão com a procura de significado. Não pode ser em vão, esta vida! Queremos acreditar que cada vida deve ter um propósito, uma vocação, uma missão. E procuramos sinais para finalmente perceber qual é a nossa missão, o nosso propósito e o significado da viagem que fazemos enquanto individuo. 

Procuramos sinais - nos astros, nas cartas, nos números. Sinais que tudo vai correr bem, por exemplo. Que havemos de encontrar o nosso amor, a abundância e a prosperidade, a sabedoria e a iluminação. Deciframos o mapa astrológico para entender melhor o nosso caminho. Deitamos as cartas para saber o que nos falta resolver. Recorremos aos números para descobrir sincronicidade. 

Do mesmo modo, o portal do Leão acabou associado à numerologia do dia 8 de Agosto. O número 8, na numerologia, traz a energia do infinito, da energia que se renova sem fim.  É símbolo de abundância, prosperidade, sorte, justiça, ética. É o símbolo do equilíbrio, representando a conexão entre céu e terra, entre vida e morte, início e fim. E não é só um dia 8, como ainda por cima é potenciado pelo mês 8! 

Precisamos dos sinais e dos seus significados. Dão nos alimento para reflectir e pensar. São pistas que ajudam a entender a Vida... a não ser que começamos a apegar-nos àquilo que os simbolos sugerem. Somos seres duais. A nossa mente procura certezas e controlo, mas a nossa Alma sabe que nada é o que parece e que não controlamos nada. 

Para mim, os dias do Portal do Leão convidam a reflectir sobre a nossa verdadeira natureza, que é mesmo dual. A energia convida-nos a conectar estes opostos: o desejo de ter algo por onde agarrar, e o saber que o verdadeiro significado está naquele vazio onde tudo É, mas nada existe por si ou em si. 

E podemos encontrar pistas para este convite no próprio Sirius, cuja energia por estes dias nos chega  potenciada pelo Sol. Olhamos para Sírius como se fosse uma só estrela mas na realidade Sirius é uma estrela binária, ou seja, é composto por um sistema de duas estrelas orbitando entre si. Sirius é a dualidade materializada. 

Como viver a energia do Portal do Leão?

Podemos aprender nos dias do Portal do Leão algo acerca da vida, se estivermos dispostos a simplesmente Ser. Tirando uns momentos para fazer uma meditação sentada, por exemplo. Sentada sobre a Terra, vivenciando a vida que acontece em nós. 

Para nós, seres duais, isto significa vivenciar a nossa dupla natureza. Sentir a vida e observá-la ao mesmo tempo. Como se fossemos ao mesmo tempo o rio que flui e o leito do rio que segura o fluxo. 

O nosso corpo sabe que faz parte da Natureza. Em constante mudança, confia na força da Terra e entrega-se. A expiração é um esvaziamento sem receio: o corpo sabe que haverá uma nova inspiração a seguir. Há sabedoria no corpo, uma sabedoria natural, próprio da Vida na Terra. O corpo ouve, sente, regista. Há no corpo uma sabedoria que abraça tudo que acontece, confiando que saberá o que fazer quando acontece. 

A nossa mente, entretanto, procura. Lembra, observa, comenta, opina e pensa sem parar. É como o rio que corre - mas que deixa de correr quando nos apegamos a um pensamento ou a uma emoção. Quando começamos a querer manter um pensamento ou sensação, ou quando começamos a lutar contra um outro pensamento ou sensação. 

Deixa correr o rio, testemunhando o leito onde o rio corre. Abrindo a atenção a 360º podemos notar tudo sem necessidade de reagir. Deixa correr o rio, até acalmar e começar a fluir calmamente. 

Assim podemos ficar no momento, no Aqui e Agora, em contacto com a Vida e com a Força que É a Criação.  


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